O Atelier Chilaze, após mergulhar no universo das estrelas latinas em Hollywood, lança coleção cápsula de alto-verão inspirada no multiculturalismo presente na moda do final dos anos sessenta e virada dos setenta. A diretora de estilo Claudia Chilaze explica a escolha: “A gente vem de coleções nas quais sempre abordamos, de uma maneira mais ou menos intensa, referências étnicas. A convergência do mood tribal, o life-style exótico, a pesquisa antropológica e o cruzamento de culturas tão ricas quanto diversas são a bússola constante na qual perseveramos, tanto na identidade da marca quanto no sentido de criar um estilo carioca urbano e único, rico em informação. Chamamos aqui nas internas de estilo enciclopédico. Por isso, pareceu lógico, depois de passarmos uma temporada inteira por conta de personalidades cinematográficas latinas, que avançássemos duas casas e chegássemos naquele curto espaço de tempo, entre 1966 e 1974, quando virou febre o trabalho de Yves Saint Laurent – emblemático pela inclusão de elementos étnicos no fashion design com coleções africana, japonesa, marroquina e chinesa, coisa que não se via há pelo menos uns 30 anos”.
A designer se refere à abrangência com que o espírito multicultural de Saint Laurent se estabeleceu na dianteira da moda, se difundindo por todo o mundo ocidental e influenciando uma nova safra de estrelas dentro e fora das telas, no auge do jet-set.
Para isso, a Chilaze foca na superprodução “Cassino Royale” (idem, de Ken Hughes, John Huston e outros, Columbia Pictures, 1967), livre adaptação cômica do livro de Ian Fleming, com all-star cast, cujo argumento tira James Bond (David Niven) da aposentadoria para combater o crime internacional ao lado de beldades como a suíça Ursula Andress (Vesper Lynd, que na versão de 2006 foi vivida por Eva Green), a israelense Daliah Lavi, as inglesas Joanna Pettet e Jacqueline Bisset, a escocesa Deborah Kerr e a alemã Barbara Bouchet – todas a quintessência de um planeta que, apesar de dividido pela guerra fria em dois blocos, prenunciava uma globalização ainda distante por vir, mas já realidade na difusão da moda e na penetração do cinema.
São ainda referências a lisergia Pop Art das obras de Andy Warhol; o batom rosa flamingo criado pela Revlon e a sombra azul usados na caracterização de Elizabeth Taylor no clássico “Cleópatra” (1963); o psicodelismo das campanhas do estilista Rudy Gernreich, protagonizadas pela modelo Peggy Moffitt; e o hair styling da beauty artist Joan Smallwood para a bond girl vivida por Ursula Andress em “Cassino Royale”.
Para isso, a brand aposta pela primeira vez nas cores flúor – hit do momento, mas igualmente em voga no período homenageado pela coleção, por conta dos avanços nas indústrias têxtil, química e aeroespacial. Impulsionados pelo uso de plásticos e acrílicos, nos acessórios, e de fibras sintéticas como o poliéster, nas roupas, tanto os tons ácidos quanto os reativos então imperaram na moda, assim como agora, quando sintetizam o estilo dopamina do pós-vacina. Dessa forma, uma dupla marcante nas coleções de Saint Laurent – rosa e laranja – é presença nessa nova fornada de peças do Atelier Chilaze, além dos verdes menta e limão, amarelos lima e canário, turquesa fresh e o roxo very peri, a cor do ano, nas texturas sólida ou lalique.
Para completar, são destaque clutches monocromáticas em palha com barbicaches na mesma cor ou contrastantes, bem como bolsas em crochê desenvolvidas em parceria com artesãs da Rocinha.
“É curioso conferir o o espírito daquilo que se criava há mais de 50 anos, então com materiais poluentes, hoje ganhar corpo com a resina handmade sem descarte, assim como o crochê, que volta à condição de último grito, e não como artesanato banal”, observa a diretora comercial Sandra Chilaze, que se prepara para a próxima edição da Bijoias, em fevereiro, após as presenças firmes em setembro e novembro.