O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, salientou que o fortalecimento do parque fabril é decisivo para a retomada do crescimento econômico em níveis expressivos e o aumento da competitividade do Brasil no cenário global. Ele fez a afirmação ao analisar os dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) Empresa e Produto de 2020, divulgada pelo IBGE, que demonstra a queda da manufatura. Somente na década de 2011 a 2020, fecharam-se cerca de 10 mil empresas e se perderam mais de um milhão de empregos no setor.
“No segmento de confecção, representado pela Abit, ocorreram 25% dessas reduções de postos de trabalho. Somando-se esta área às de acessórios de metal e artigos de couro, chega-se à metade das vagas perdidas, ou seja, cerca de 500 mil empregos”, observou Pimentel. Ele frisou que o próprio IBGE indicou que esses três setores enfrentam de modo mais intenso as mudanças estruturais relacionadas à evolução tecnológica, a forte concorrência internacional e maior dependência do consumo interno.
“Com o ficamos 10 anos travados nesse período, ficou muito prejudicada a evolução desses setores, que, simultaneamente, se depararam com o mercado nacional estagnado e com a concorrência, nem sempre de uma forma justa, de produtos importados”, explicou o presidente da Abit. Assim, ponderou, “são necessárias estratégias específicas para setores intensivos na geração de empregos, como a confecção, para melhorar sua competitividade”.
Pimentel enfatizou que muitas nações desenvolvidas estão procurando repatriar fábricas ou levá-las para mais perto de seu território, numa nova ordem mundial na qual reduzir dependências, inclusive na logística e no transporte, torna-se diferencial estratégico. “Entretanto, o Brasil está na contramão dessas tendências. Precisamos, com urgência, de uma política industrial moderna e eficaz. Enfrentamos elevados impostos, ondas de juros altos e falta de crédito, câmbio muito volátil, insegurança jurídica e todos os conhecidos componentes do Custo Brasil. O resultado é visível no crescimento de apenas 0,3% por ano, em média, de 2011 a 2020, exatamente no período em que o IBGE aponta as perdas do setor”, avaliou.
O dirigente defendeu uma política industrial com planejamento e previsibilidade, ancorada em P&D e que contemple linhas especiais de crédito, incentivos à produção conforme vocações regionais e mercadológicas e regime tributário incentivador aos investimentos voltados à inovação, incluindo os bens de capital. Para ele, cabe ao governo, em parceria com o setor privado, fomentar a pesquisa e ciência nas universidades e institutos públicos, remover obstáculos burocráticos e promover incentivos nas áreas nas quais haja vantagens competitivas ou interesse estratégico, principalmente na agenda que envolva a bioeconomia. É essencial, ainda, realizar as reformas estruturantes, principalmente a tributária e a administrativa, para melhorar a estrutura do setor público e proporcionar melhor ambiente de negócios.
Também é necessário contemplar uma política que insira o setor na chamada Manufatura Avançada, permeada pela digitalização da economia, inteligência artificial, internet das coisas, impressão 3D, robotização e o conceito de ESG (do inglês Environmental, Social and Governance / Meio Ambiente, Social e Governança Corporativa). “Alta tecnologia e responsabilidade socioambiental são as novas marcas do fomento da indústria”, enfatizou Pimentel.
“Todos os setores são importantes e precisam ser estimulados para conduzir o País a um novo patamar de desenvolvimento. Porém, a indústria tem papel estratégico, pois é provedora de tecnologia e inovação, gera empregos de modo intensivo e de qualidade e produz bens e mercadorias de alto valor agregado, inclusive para incrementar nossas exportações”, afirmou o presidente da Abit.