O Brasil ocupa a quarta posição no mundo em casos de diabetes. Temos cerca de 14 milhões de diabéticos ou cerca de 6,5 % da população brasileira. E a doença é uma das principais causas de neuropatias diabéticas– enfermidade caracterizada pela degeneração progressiva dos nervos e que leva a diminuição de sensibilidade à dor em várias partes do corpo, dependendo dos nervos afetados.
A neuropatia periférica atinge especialmente as extremidades do corpo como pés e mãos. Sua evolução é lenta e pode passar despercebida até o surgimento de sintomas mais graves, que podem variar de dor extrema com qualquer toque na pele, dormência e formigamentos dos membros periféricos, à perda da sensibilidade.
Em casos mais graves, os sintomas compreendem problemas de digestão, na bexiga e para controlar a frequência cardíaca, e até pode levar a condições debilitantes. Existem quatro tipos de neuropatias que podem estar presentes na vida do portador de diabetes. São elas:
- a) Neuropatia periférica: a mais comum em pacientes diabéticos, geralmente inicia-se nos pés e nas pernas, seguidos de mãos e braços. Nos pés pode causar problemas graves como o pé diabético, caracterizado por úlceras ou infecções que podem levar à amputação do pé e até da perna.
- b) Neuropatia autonômica: afeta o sistema nervoso autônomo, que controla diversos órgãos que funcionam independente de nossa vontade. São eles: coração, estômago, intestino, bexiga, olhos e órgãos sexuais. Sendo assim, seus sintomas dependem da área afetada que podem variar de ausência de sintomas de hipoglicemia, aumento ou redução de suor, diminuição da pressão arterial, disfunção erétil, secura vaginal, urgência miccional, incontinência urinária, entre outros.
- C) Neuropatia proximal: também denominada de amiotrofia diabética, afeta os nervos das coxas, quadris, nádegas, pernas, abdômen e tórax. A predominância maior ocorre em adultos mais velhos, idosos e pessoas com diabetes tipo 2. Os principais sintomas são dores intensas nessas regiões, fraqueza nos músculos da coxa, com dificuldade de se levantar.
- D) Neuropatia focal (mononeuropatia): caracterizada por afetar apenas um nervo específico dos pés ou das mãos, pernas, tronco ou da face. Os sintomas, novamente, dependem do nervo específico afetado. Embora possa causar dor severa, a doença normalmente não costuma trazer complicações a longo prazo. É mais comum em adultos mais velhos e está entre as principais causas da síndrome do túnel do carpo (dor e formigamento na mão causado pela compressão de um nervo localizado entre a mão e o punho).
Existem mais de 90 possíveis causas de neuropatias, dentre as mais comuns estão diabetes, alcoolismo, inflamação de nervo por esforço repetitivo, endocrinológico (tireoidite e a síndrome metabólica), efeitos colaterais de medicamentos, doenças autoimunes (reumatismo, lúpus, e psoríase), doenças hereditárias e as carências de certas vitaminas como as do complexo B.
O diagnóstico da neuropatia periférica diabética é essencialmente clínico e envolve uma boa anamnese e alguns exames físicos com testes vasculares e neurológicos associado à profunda avaliação dos pés. Alguns questionários auxiliam o diagnóstico, como o questionário britânico de rastreamento. Alguns exames complementares laboratoriais podem ser necessários como o TSH, hemograma completo, ácido fólico , vitaminas B12, glicemia de jejum,Hb glicosilada, ureia, creatinina, TGO, TGP e GGT.
Estima-se que 50% dos pacientes com diabetes irão desenvolver alguma neuropatia diabética ao longo da sua vida. Dentre os pacientes com neuropatia periférica, 20% deles apresentarão dor neuropática com diminuição da qualidade de vida e incapacidade funcional. “A evolução da neuropatia diabética é lenta e progressiva e não tem cura. Sua evolução é mais acelerada naqueles pacientes com mal controle glicêmico no qual sua hemoglobina glicosilada está sempre elevada”, alerta o médico de São Paulo, Dr. José Marcelo Natividade, especialista em endocrinologia, metabologia e nutrologia.
Esse descontrole eleva as taxas de açúcar no sangue aumentando a intensidade e a velocidade de lesão dos nervos. “Portanto não é apenas um único descontrole glicêmico que provoca a neuropatia periférica, e sim uma sucessão de descontroles ao longo da evolução do diabetes”, adverte o médico. A neuropatia periférica, por exemplo, é uma das principais causas do pé diabético. “Por apresentar neuropatia, o paciente tem a diminuição da sensibilidade, não sentindo a presença de feridas, úlceras e outras lesões que possam acometer os pés”, explica. Com o diabetes mal controlado, essas lesões e feridas demoram mais tempo para cicatrizar, causando infeções recorrentes no mesmo local, podendo evoluir na maioria das vezes a amputação do pé. “Essa associação de neuropatia periférica e pé diabético é denominado Síndrome do pé diabético”, afirma o Dr. José Marcelo Natividade.
A neuropatia periférica é a complicação crônica mais comum e a mais incapacitante do diabetes, sendo responsável por cerca de dois terços das amputações de pés e pernas que não são causadas por acidentes e fatores externos. E embora não tenha cura, o controle e o tratamento da doença se dá através de medicamentos e vitamina B1 orientados por um médico.
O tratamento tem como objetivo aliviar os sintomas, evitar complicações e controlar a evolução da doença. “Estão incluídos medicamentos antidiabéticos orais e injetáveis (insulina e GLP1). Além de anticonvulsivante, antidepressivos tricíclicos e não tricíclicos e analgésicos opiódes para alívio das dores”, orienta Natividade.
Mas a novidade é o uso das vitaminas do complexo B no tratamento das neuropatias, em especial a vitamina B1 no tratamento da neuropatia periférica diabética. “A vitamina B1 facilita o impulso nervoso. Sua eficácia está associada no uso de altas doses, acima de 600 mg em estudo de 4 semanas. Porém há relatos de diminuição de até 66 % dos sintomas em pacientes com neuropatia periférica diabética”, afirma o médico endocrinologista. Por isso, a recomendação para adultos é de 1,1 mg e 1,2 mg respectivamente para mulheres e homens. “Embora a vitamina B1 esteja presente em diversos alimentos, sua quantidade é muito baixa, necessitando nos pacientes diabéticos de suplementação”, recomenda.