O câncer de boca estatisticamente está entre as dez neoplasias malignas mais prevalentes e apresenta a maior taxa de mortalidade dentre os cânceres do segmento cabeça e pescoço. No mês que marca a luta contra a doença, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) ressalta a importância de promover a prevenção e o diagnóstico precoce, além de enfatizar o papel do Cirurgião-Dentista na luta contra o câncer.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa é de que, para cada ano do presente triênio (2023-2025), surjam 41 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço.
O câncer de cabeça e pescoço abrange diferentes tumores malignos que podem acometer a cavidade oral, lábios, língua, gengiva, assoalho da boca e palato; seios da face (maxilares, frontais, etmoidais e esfenoidais); faringe, nasofaringe (atrás da cavidade nasal), orofaringe (onde estão a amígdala e a base da língua), hipofaringe (porção final da faringe, junto ao início do esôfago), laringe (supraglote, glote e subglote), glândulas salivares e glândula tireoide. No Brasil, os tipos mais comuns são os da cavidade oral, nos homens, e os de laringe e de tireoide, nas mulheres.
O Cirurgião-Dentista exerce um papel fundamental na prevenção, diagnóstico e tratamento da doença, como explica o membro da Câmara Técnica de Estomatologia do CROSP, Dr. José Narciso Rosa Assunção Júnior. “Assim como em qualquer tipo ou localização de câncer, as neoplasias de cabeça e pescoço apresentam sinais que podem e devem ser observados durante o exame do paciente. Mesmo antes de avaliar dentro da boca ou garganta, já se observa se existe algum aumento de volume no pescoço, alguma alteração de cor ou dificuldade de movimentação, por exemplo”.
De acordo com o Dr. José, ao examinar as mucosas da boca ou garganta é possível verificar se estão com coloração normal, hidratadas e se apresentam “feridas” ou “caroços”. Além disso, segundo ele, alterações de fala e mudança de voz também merecem atenção.
Quando se fala em lesões cancerígenas, vale destacar que os índices de cura se aproximam de 100% quando elas são diagnosticadas na fase inicial. Dr. José considera que o diagnóstico precoce resulta no melhor desfecho para qualquer tipo de doença e que, no caso do câncer, essa atenção precisa ser redobrada. “Tendo em vista o fácil acesso à boca e a simplicidade do exame, a detecção e diagnóstico das neoplasias malignas da boca não deveriam ser uma dificuldade. Quando se pensa em cura e melhor qualidade de vida, deve-se sempre pensar em diagnosticar as lesões o quanto mais cedo possível”.
Assim como o Dr. José, o secretário da Câmara Técnica de Estomatologia e da Comissão de Políticas Públicas do CROSP, Dr. Vinicius Pioli Zanetin, compartilha da mesma opinião e fortalece a atuação do cirurgião-dentista neste contexto. “O câncer de boca é considerado um problema de saúde pública no mundo e a maior parte dos casos da doença são detectados já em fase avançada”.
O especialista lembra que o profissional além de auxiliar na prevenção, pode contribuir na elaboração de ações e políticas para a prevenção e diagnóstico precoce, pois o profissional ocupa um importante papel estratégico nesse enfrentamento, inclusive quando se coloca como membro da equipe multiprofissional, liderada pelo médico oncologista.
Dr. Vinicius considera ainda que, independentemente de sua inserção, seja na rede pública ou particular, ele deve ter conhecimentos sobre os fatores de risco e a busca pelo diagnóstico precoce, assim como articular esses conhecimentos em sua prática rotineira, pois, é sabido que os pacientes, na grande maioria das vezes, somente procuram atendimento quando já sofrem alguma restrição alimentar, de fala ou de convívio social. “Isto leva a uma demora no diagnóstico, acarretando em pior prognóstico e diminuição da taxa de sobrevida. Mesmo quando não há mais indicação para o tratamento curativo, restando apenas o seguimento paliativo, porém, quando o inverso ocorre, ou seja, o câncer é diagnosticado precocemente, há melhor aproveitamento da qualidade de vida, pois os tratamentos são menos agressivos”, conclui o Dr. Vinicius.
Os especialistas recomendam, portanto, que sejam feitas consultas frequentes ao cirurgião-dentista, inclusive quando for observada qualquer alteração. “É fundamental que as pessoas procurem o auxílio do especialista. As visitas periódicas também são importantes, pois serão nelas que até mesmo as lesões não percebidas pelos pacientes serão observadas e diagnosticadas”, orienta Dr. José.
Além das consultas frequentes, devem ser adotados hábitos saudáveis com foco na eliminação de fatores de risco, entre os quais o consumo de bebidas alcoólicas e o hábito de fumar.
A utilização de preservativos durante o sexo oral também é recomendada, uma vez que a infecção pelo HPV também é um fator de risco para o câncer de orofaringe. Bons hábitos alimentares também são recomendados.