A nova coleção do Atelier Chilaze é pura emoção. Inspirada nas atrizes latinas dos anos 1930/40 aos 1980/90, num percurso que vai da Hollywood pré-wartimes ao viradão dos noventa, no cinema cult espanhol do início da globalização.
Nessa bússola fashion, pululam as referências: das mexicanas que dominaram a cena no limiar do cinema falado, Dolores Del Rio (1904-1983) – protagonista de “Voando para o Rio” (Flying Down to Rio, RKO, 1933), produção passada na Cidade Maravilhosa, ambientada num Copacabana Palace recriado em estúdio e que lançou a dupla Fred Astaire e Ginger Rogers – e a temperamental Lupe Vélez (1909-1944) – terror dos maquiadores da MGM, que precisavam constantemente disfarçar as marcas de unha nas costas do seu marido, o atleta olímpico que encarnava o Tarzan do estúdio, Johnny Weissmuller (1904-1984) – à dominicana Maria Montez (1912-1951), rainha das aventuras classe B da Universal Pictures em produções kitsch como “As mil e uma noites” (1942), “Mulher Satânica” (1944) e “Rainha do Nilo” (1945). Todas estrelas histriônicas e passionais, capazes de resolver rompantes na base de vasos de flores, cinzeiros e copos atirados a granel nas paredes, mas dotadas de morenice irresistível.
Ainda no imaginário inspiracional da Chilaze, a brasileiríssima Carmen Miranda – soberana absoluta do technicolor na 20th Century Fox e incomparável quando se trata de hipnotizar a plateia com irreverência, gaiatice e picardia – e, mais para frente, as espanholas Carmen Maura, Marisa Paredes e Victoria Abril, musas de Pedro Almodóvar em películas marcadas por um tão colorido camp quanto a cartela cromática dos filmes estrelados pela Pequena Notável e por Maria Montez.
Fechando esse exótico casting, a voluntariosa, implacável e exuberante Maria Félix, à frente de “Doña Diabla” (1950), de quem a brand pegou o nome emprestado para batizar a nova fornada de peças. Fuego y pasión, no? Para estrelar a campanha, a grife convocou uma top model igualmente potente: a paulista Caroline Francischini – tão latina quanto Félix, Montez ou Miranda, do tipo que é pura perdição e hoje residente em Londres.
A diretora de estilo Claudia Chilaze explica o porquê desse inesperado tema para a coleção: “Estamos todos precisando de escapismo para segurar a onda, após um ano e meio de pandemia. É necessário ficarmos todos ligados naquilo que está acontecendo no mundo à nossa volta, claro, mas também é preciso contarmos com uma válvula de escape. Quer coisa melhor que o cinema para isso?”. Ela finaliza o raciocínio: “Daí que, depois de três coleções pensadas em questões estritamente relacionadas à preservação planetária e ao empoderamento da mulher, escolhemos dessa vez trazer a emancipação feminina sob a epiderme do bom humor e paixão. Afinal, nossas peças e formas brincam com o colorido dos adereços usados por essas atrizes espetacularmente donas de si, dentro e fora das telas, naqueles anos.”
A diretora comercial Sandra Chilaze completa: “A sustentabilidade faz parte do nosso DNA no dia a dia, nos processos de produção das peças, no fomento junto às comunidades de artesãos, nas técnicas de reuso e no aproveitamento de materiais orgânicos não poluentes. Essa é mesmo a nossa rotina. Então, não precisamos falar disso o tempo todo. Podemos enveredar por outros assuntos, já que qualquer temática selecionada vai ser desenvolvida dentro desses princípios limpos.”
No radar, os colares, brincos, aneis e pulseiras de bolas que viraram best-sellers na coleção anterior agora se desdobram em novas criações que evocam os adornos que marcaram os anos 1940, como os babilaques e maxi colares de Carmen Miranda, aliás, a primeira mulher a fazer uso não-bélico do acrílico nos saltos de sandálias-plataforma.
Como pesquisa, as formas destinadas pelos criadores da época aos primeiros plásticos usados em acessórios, como a baquelita, solução divertida para decorar colos, braços e dedos femininos numa era igualmente caracterizada pelo racionamento, como agora. Com um detalhe: ao invés daquelas pesadíssimas matérias-primas poluentes, que tal recriar essa atmosfera chique retrô através da levíssima resina produzida no Atelier Chilaze sem descarte, manualmente confecionada sem resíduos ou prejuízo ao meio-ambiente?
No destaque, bolsas em marcheteria com madeira de reflorestamento e resina, inclusive aquelas inspiradas nas obras de artistas plásticos brasileiros cujo colorido flerta com o technicolor – Eduardo Sued e Beatriz Milhazes.
Para completar, novos modelos de bolsas e clutches em palha colorida com debruns contrastantes, com galões e barbicaches em padronagens neo-astecas, porta-celulares em crochê, correntinhas para máscaras, novas cores e formas de colares de elos e a ampliação da linha de pulseiras, além do homewear da marca, puro must have: cestaria, bowls, gamelas, sous-plats, descansos de mesa, luminárias, leques decorativos, tapetes, bandejas, boleiras e banquinhos em mix de pintura à mão e adereçamento com linha naturais e cordas de garrafa pet.