A 44ª edição da Feira Internacional de Arte Contemporânea da Espanha tem a Amazônia como tema central. Wametisé: ideas para un amazofuturismo reúne artistas e galerias para propor uma reflexão sobre novas formas de criação que representam existências híbridas – entre corpos humanos, vegetais, físicos e metafísicos. O projeto explora novas maneiras de enxergar o mundo, inspiradas nos modos de vida passados e presentes da Amazônia, onde a identidade se constrói a partir da interconexão entre os seres.
A seção é curada por Denilson Baniwa e María Wills, com a colaboração do Instituto de Estudos Pós-Naturais, responsável pela arquitetura do espaço, a coordenação do Fórum e a concepção de uma publicação especial dedicada ao projeto. O conceito de Wametisé surge como um exercício de nomeação dessas práticas, visando facilitar processos criativos que possibilitem a construção de Mundos em Transformação.
A obra de Anna Bella Geiger, uma das vozes mais contundentes da arte conceitual brasileira, ecoa um território em disputa. Na ARCOmadrid 2025, pela Galeria Danielian, sua participação na exposição insere-se nesse debate urgente: a Amazônia, não como utopia futura, mas como resistência contínua.
Geiger, descendente de tribos judaicas da Judeia, estabelece um paralelo entre os processos de diáspora e deslocamento de sua própria ancestralidade e a luta dos povos indígenas brasileiros pela sobrevivência e autodeterminação. Desde os anos 1970, sua série Brasil Nativo Brasil Alienígena desloca as narrativas hegemônicas, confrontando a visão colonial e denunciando a exclusão sistemática das culturas originárias. Seu trabalho, que transita entre postais, cadernos de artista e experimentações conceituais, investiga o espaço simbólico e real do território, refletindo sobre pertencimento, exclusão e identidade reafirma a potência política da arte como um ato de resistência e consciência histórica. Para Geiger “não existe uma Amazônia do futuro. O que existe é um presente premente”.
Wametisé, cujo nome significa “lugares nomeados” , remete ao tempo e ao território de ocupação das humanidades em cada espaço.Segundo a cosmogonia de alguns povos do Alto Rio Negro, no Amazonas, faz referência à criação do mundo, onde a grande serpente, que carregava a humanidade em seu ventre, posicionava cada pessoa em seus territórios. Ao sair da boca da serpente, cada indivíduo se apresentava e nomeava o lugar onde viveria.
Diante da crescente presença de pessoas de origem indígena ou amazônica no mundo da arte, parece haver uma “nomeação” ou necessidade de ir a esses lugares ocupados por sensibilidades alternativas e buscar novas identidades inspiradas no pensamento dos povos originários. Para os Tukano, isso se expressa no Hóri (o fazer e pensar imagens belas e sagradas); para os Huni Kuin, é o Kené, entre outras denominações que nos ajudam a imaginar novos vocabulários e simbologias para o universo das artes.
As obras que integrarão esta seção apresentarão novas possibilidades de ver o mundo, inspiradas nas formas de vida passadas e presentes da Amazônia, onde a identidade se constrói a partir da conexão entre seres que projetam um futuro coletivo, com narrativas curativas e profundamente renovadoras. Através de abordagens críticas, propõem-se práticas mais plurais para a arte contemporânea. Wametisé surge, assim, como um exercício de nomear essas práticas para possibilitar a criação de “Mundos em Transformação”.
O amazofuturismo apresentará criações inspiradas na urgência de reconhecer florestas, rios e territórios naturais como sujeitos de direitos, em oposição à exploração desmedida de seus recursos. É essencial projetar as lutas que impulsionem mudanças de consciência diante da emergência ambiental contemporânea, utilizando novas nomeações que compreendam a sustentabilidade a partir de uma perspectiva crítica ao antropoceno. A proposta busca espaços para novos universos materiais e espirituais, nos quais o objeto artístico seja compreendido para além de sua mera existência física.
5 a 9 de março de 2025
IFEMA
Avda. del Partenón, 5 28042
Madrid España