A indústria automobilística e a da moda estão mais conectadas do que pode parecer. Tanto a definição da linha de produtos de uma montadora, quanto da coleção de um grande estilista se baseiam nas tendências identificadas na sociedade e no contato com fornecedores de matérias primas.
A grande diferença entre os processos criativos seguidos por essas indústrias é uma questão de timing – enquanto o ramo da moda precisa pensar nas coleções que irá lançar com cerca de um ano de antecedência, a indústria automobilística leva aproximadamente quatro anos desde a concepção do projeto até a disponibilização de um novo carro aos consumidores.
Mas como as empresas conseguem definir o que agradará ao consumidor com tamanha antecedência? De acordo com Adília Afonso, supervisora de Design da Ford América do Sul e especialista em cores e acabamentos a indústria precisa ter grande conhecimento do seu público, além, claro, de manter-se inteirada sobre notícias relacionadas ao universo específico do Design.
“A Ford realiza pesquisas recorrentes com seus consumidores e, a partir da análise desses resultados, deduzimos o que ‘agradará’ nos próximos anos. Assim como acontece no mercado de moda, a indústria automobilística não consegue absorver todas as tendências, mas os estudos nos levam a selecionar os parâmetros nos quais iremos apostar”. Esses levantamentos identificam um outro ponto de grande importância para a empresa: as preferências de cada região. Por trabalhar com plataformas globais, em muitos casos, as equipes precisam adequar alguns aspectos a regiões específicas.
O EcoSport, por exemplo, foi desenvolvido pela equipe de design do Brasil que, com base nas demandas do mercado nacional, trouxe a cor cinza para o interior do produto. Mesmo sendo uma plataforma global, o carro ganhou uma versão diferente para o mercado asiático com o interior em tons de bege, o que lá, segundo Adília, remete a conforto e requinte. O tom inicialmente desenvolvido no Brasil para atender ao gosto local agradou também outras regiões e é, hoje, usado em um número maior de países quando comparado com a versão bege.
Outra peculiaridade do mercado com a qual a equipe de Design precisa lidar é o fato de que um carro fica, em média, cinco anos com cada proprietário. “Isso implica um cuidado especial no momento de definir cores e texturas para que as superfícies não cansem o consumidor”, explica Adília.
Para manter-se atualizada, é preciso dedicação: acompanhar eventos dos mais diversos setores, estar atenta às apresentações de fornecedores que detem a tecnologia, uma vez que eles são responsáveis pela matéria-prima disponível no mercado desde os pigmentos da pintura até o material do estofado, e, claro, observar as semanas de moda. Segundo Adília, essa é a única forma de garantir que as apostas do mercado automobilístico estarão sempre alinhadas ao que há de mais atual.
