O economista Persio Arida, um dos formuladores do Plano Real, foi o convidado do Canal Aberto/Observatório Econômico, evento online realizado na manhã desta quarta-feira (09/11) pela Câmara de Comércio França Brasil (CCIFB-SP). Integrante da equipe definida pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para atuar na transição, Arida comentou pontos importantes da agenda econômica do país para o curto e o médio prazos, como a reforma tributária e o acordo entre União Europeia e Mercosul, além de apresentar suas expectativas para o cenário econômico global em 2023.
O presidente da CCIFB-SP, Pedro Antonio Gouvea Vieira Almeida e Silva, fez a abertura do webinar, lembrando que Arida não costuma dar entrevistas e palestras, agradecendo a gentileza dispensada ao evento da Câmara. Pedro Antonio destacou a relevância das relações comerciais entre França e Brasil, ressaltando que o investimento direto francês no país é o terceiro maior em estoque, superando o realizado pela China, por exemplo.
“Todas as empresas que compõem o índice da Bolsa de Valores de Paris estão presentes no país, além de fintechs e vários unicórnios”, disse o presidente da CCIFB. Ele destacou também que as empresas francesas são os maiores empregadores do Brasil, com aproximadamente 600 mil colaboradores diretos, e os maiores pagadores de impostos do país. Citou ainda o fato de a União Europeia ser o maior parceiro comercial do Brasil.
Octavio de Barros, vice-presidente da CCIFB-SP, destacou a reputação e a credibilidade que Arida conquistou ao longo de sua trajetória profissional, citando a sua participação na formulação do Plano Real e sua passagem pela presidência do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Entre os pontos da agenda econômica comentados, Arida afirmou que, negociado há muito tempo, o acordo com a União Europeia “já nasceu velho, ficando aquém daquilo que o Brasil precisaria”. Em sua opinião, no entanto, é melhor fechar o acordo e, se possível, garantir a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), iniciativa ” que seria muito bem-vinda para o país, inclusive do ponto de vista das restrições que a organização coloca em relação a políticas protecionistas”. Arida acrescentou que, como ocorre com toda economia emergente, “o caminho do Brasil é a integração com o mundo”.
Sobre a reforma tributária, Arida comentou que está amadurecida a vertente em que se busca o aumento da produtividade na economia, que está embutida na criação do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA). “Deve ser prioridade no próximo governo, o que é ótima notícia”, disse ele. Ele destacou que a medida será um enorme avanço, considerando o longo prazo de implementação do IVA. “A ideia é criar o IVA e reduzir outros impostos, calibrando para a arrecadação ficar mais ou menos constante”, disse. Em sua opinião, a iniciativa facilitaria o ganho de produtividade e resolveria muitos pontos da discussão envolvendo a reindustrialização no país.
Outro assunto que foi abordado por Arida é a agenda ambiental. Segundo ele, a saída do governo Bolsonaro renovará a expectativa de uma boa agenda ambiental no Brasil, “que tem tudo para se transformar na vanguarda da preservação da natureza”, lembrando que, além da Amazônia, o país conta com grande diversidade de fontes renováveis de energia. Em sua opinião, essa mudança contribuiria muito para a atração de fluxos de capitais para o Brasil. “Temos investidores que dão peso muito grande ao chamado ESG e que deixaram de considerar o Brasil como opção de investimento”, disse ele.
No front fiscal, o economista citou o exemplo da Grã-Bretanha – em que, em sua opinião, houve uma “barbeiragem” no anúncio da política econômica da ex-primeira-ministra Elizabeth Truss –, como um alerta ao novo governo no Brasil. “Não se pode queimar a largada, ou seja, começar com algo percebido como desastroso”, disse ele. “A Inglaterra nos faz um alerta: não queimar a largada”, acrescentou. Arida disse que o Brasil vem de uma política fiscal longe de ser contracionista e tem um teto de gastos que vem sendo furado. “A preocupação maior é o risco de o novo governo enfrentar o que se passou na Grã-Bretanha”.
Em relação à independência do Banco Central, outro tema abordado, o economista destacou que não vê possibilidade de reversão nessa iniciativa. “A iniciativa foi um enorme avanço. É algo que veio para ficar”, disse ele. Arida acrescentou que o Banco Central vem fazendo ótimo trabalho para aumentar a competividade no setor financeiro.
Pedro Antonio agradeceu a participação de Arida no evento, destacando dois pontos abordados na palestra do economista que “estão na mesa e que farão enorme diferença no próximo governo”. O primeiro é a reforma do IVA, “uma medida imperativa e que já está madura”. Ele também afirmou que o “isolacionismo” em que o Brasil mergulhou nos últimos anos não foi positivo país”, acrescentando que o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul “insere o Brasil mais rapidamente no cenário internacional e contribuirá para aumentar nossa produtividade e atrair capitais”.