Com o apoio do Instituto Bardi, o curador e galerista Sergio Campos lança amanhã, dia  10 dezembro, na Casa de Vidro do Instituto Bardi, localizada na Rua General Almério de Moura, 200, no bairro do Morumbi, em São Paulo, o livro “Lina Bo Bardi Designer, O Mobiliário dos Tempos Pioneiros 1947-1958”, pela Artemobilia Publicações.

O projeto literário “Lina Bo Bardi, O Mobiliário dos Tempos Pioneiros 1947-1958”, primeiro volume com 356 páginas, de autoria de Sergio Campos, é fruto de uma pesquisa que teve seu início em 2013, durante os preparativos para a exposição homônima no Instituto Bardi/Casa de Vidro, que integrou as comemorações do centenário de nascimento de Lina em 2014, com curadoria do autor.

Capa do livro – foto Thomas Scheier

O livro vem preencher uma importante lacuna na obra da multifacetada arquiteta, e procura mostrar, através de farta documentação escrita e fotográfica, a riqueza e o pioneirismo conceitual da produção de design de mobiliário de Lina Bo Bardi, que desde sua primeira criação, a cadeira do MASP 7 de Abril, influenciou decididamente a primeira geração de designers modernos, como Sergio Rodrigues, que a admirava, e que certa vez me disse em depoimento: pode escrever aí xará, a Lina foi “a primeira estrangeira que vestiu a alma com a camisa brasileira”.

 

Desenhada em 1947 para ser usada em um pequeno auditório da primeira sede do Museu de Arte de São Paulo, que ela ajudou a fundar, juntamente com seu marido Pietro Maria Bardi e Assis Chateaubriand, a cadeira já traz elementos da nossa cultura popular, como o assento em couro de sola selvagem costurada com barbante, a moda das vestimentas dos povos do sertão, dobrável e empilhável, assim como as populares cadeiras dos circos itinerantes.

 

O autor relata, em detalhes, a impactante atuação do  Estúdio de Arte Palma, o primeiro escritório de design e arquitetura de interiores do Brasil, cujo móveis, muito adiantes de seu tempo, em boa parte foram inspirados em um dos mais perfeitos instrumentos de descanso, segundo Lina: a rede dos indígenas, os povos originários. Estes móveis diferiam de tudo que já havia sido produzido no Brasil e no mundo e eram encomendados por clientes e arquitetos visionários, como Vilanova Artigas, Rino Levi e Gregori Warchavchik.

 

Em plena era atômica, a arquiteta utilizou materiais vernaculares e totalmente inusitados na concepção de muitos dos seus móveis, como sola de couro selvagem, cordas náuticas, conduítes elétricos, cunhas de carro de boi, compensado de pinho, entre outros.  O livro procura mostrar como esta leitura e atitude reverberaram entre os designers contemporâneos, como os geniais Irmãos Campana.

 

O livro também aborda a editoria de Lina na revista Habitat, referência fundamental entre as publicações ligadas à cultura e arquitetura no século XX no Brasil, espaço em que assume o compromisso com temas que a acompanharão em toda sua trajetória profissional, em seu país de escolha.

 

Um capítulo é dedicado à lendária Casa Bittencourt, em São Paulo, residência da família de Mario Taques Bittencourt, que a encomendou ao arquiteto Vilanova Artigas e que, por sua indicação, foi mobiliada com peças autorais do Estúdio Palma, em 1950. Trata-se de um projeto único que teve a felicidade em reunir o que se tinha de mais vanguardista na arquitetura e no design modernos. Após 70 anos, o mobiliário original foi encontrado, restaurado e reinserido na casa para um inédito ensaio fotográfico por Sergio Campos, o autor.

 

O ineditismo é uma das marcas registradas da obra literária que oferece generosa documentação nunca publicada, boa parte proveniente dos arquivos do Instituto Bardi/Casa de Vidro, do qual o livro conta com o apoio institucional.

 

O segundo volume do livro, a ser lançado em 2023,  tratará do mobiliário que Lina criou para sua Casa de Vidro, em 1951, a internacionalmente famosa Bowl Chair, também chamada por Lina como “Tijela”, bem como os móveis que desenvolveu no período em que viveu na Bahia e aqueles especialmente desenhados para o Sesc Pompeia.