A Santa Resistência leva à passarela do São Paulo Fashion Week N55, em sua quarta participação no evento, a presença contagiante de Maria Padilla como tema da nova coleção “Maria Mariá – mulher em movimento”  O desfile acontece no dia 27,  ás 20h30, no Komplexo Tempo, na Mooca

 

 Era 25 de fevereiro de 1353 e contra sua própria vontade, a jovem princesa francesa Branca de Bourbon (1339-1361) de apenas 14 anos , chegava com seu séquito, chefiado pelo Visconde de Narbona, ao Reino de Castela para se unir em matrimônio arranjado com o rei Dom Pedro I de Castela, de apenas 19 anos. Entretanto, ele estava distante, tanto física quanto emocionalmente. Encontrava-se bem longe dali, em Torrijos, ao lado de sua amante Maria de Padilla (1334-1361), da mesma idade e prestes a dar luz ao primeiro dos quatro filhos que teria como amante do monarca espanhol, todos frutos de um genuíno e tórrido romance que até hoje serve de arquétipo para o amor latino visceral, daquele que expande os prazeres da carne à conexão de almas.

Ao longo oito anos, Branca, que ascenderia ao título de Rainha de Castela, precisou engolir em seco toda vez que o enfeitiçado Pedro, mesmo se tornando um competente autocrata que soube fortalecer os laços do seu país com a França, a repudiava em favor de sua amada, verdadeira pedra no sapato da primeira enquanto potente influenciadora do rei tanto no âmbito político quanto nos aspectos da vida mundana. Em linguagem contemporânea, a astuta, sedutora e firme Maria Padilla foi, em sua breve trajetória, uma mulher empoderada até morrer aos 25 anos como vítima da pandemia de peste bubônica poucos meses após Branca, envenenada para que saísse do caminho do casal.

Inconformado com a morte prematura da amada, Pedro I não fez por menos: declarou que sua primeira e única esposa havia sido Maria Padilla, com quem tinha se casado secretamente em Olmedo, e, com o apoio da Corte, não encontrou resistência do Arcebispo de Toledo em dissolver o casamento com Branca, considerando Maria Padilla como legítima rainha post-morten em inédito caso de ressignificação de uma das mais surpreendentes mulheres da História Medieval Hispânica. O resultado? A transferência de seus restos mortais para a Capela dos Reis na Catedral de Sevilha.

Dada a sua força e determinação que transcenderam a vida, Maria Padilla se tornou representação maior da força feminina plena de sensualidade e paixão, inspirando músicos como Gaetano Donizetti, que musicou uma ópera com o nome da rainha, e se tornando vigorosa matéria-prima para a consolidação tanto da codificação da cigana sedutora, a ponto do escritor Prosper Merimée citá-la em nota no rodapé do libreto da ópera “Carmen”, criada em coautoria com o compositor Georges Bizet, quanto da figura da pomba-gira Maria Padilha – entidade das religiões de matriz africana que sintetiza a mulher passional que, com seus encantos, busca alcançar o grande amor. Não é para menos: existem relatos de que Maria Padilla haveria lançado a mão de feitiços para conquistar Pedro I, dentre eles, um espelho junto a uma árvore através do qual o rei, ao olhar para ele, teria se rendido a esse amor avassalador.

É nesse território da passagem, entre o mito ibérico imortalizado em obras da literatura, audiovisual e música, e sua presença enquanto mulher livre na umbanda e no candomblé, dona de si, atirada e liberta das castradoras convenções morais judaico-cristãs, que Mônica Sampaio sintetiza todas as Marias – nome mais popular do Brasil que resume aquelas que amam, brigam pela sua paixão e fazem do seu lugar de fala a transgressão, obstinação e sedução.

Repleta de maxi flores bem femininas, em tecidos que exalam os aromas de azeite e perfumes calientes, e nas cores que resumem a essência da Espanha – vermelho e preto –, a nova coleção da Santa Resistência é sopro de paixão, fascínio e encantamento por este país da Península Ibérica em sinestésica mélange que evoca imagens, notas aromáticas e sabores em sintonia com a brasilidade.

Com apoio das agências Joy MGMT e Another Agency, que abraçaram o desfile da Santa Resistência pela visceralidade e com a participação da outrora modelo e hoje cantora lírica e de jazz Nádia Figueiredo interpretando uma sevillana fora da sua zona de conforto, mas absolutamente sintonizada com o tema, e uma catwalk que, além do time de top models femininas e masculinos, ainda inclui a jornalista, modelo e personalidade angolana Tina Kalamba e a veterana preta dos desfiles Veluma, o desfile pretende resgatar a beleza da passarela sem artificialismos.

Direção Criativa e styling Alexandre Schnabl @alexandreschnabl

Direção de passarela André Vagon @andrevagon

Produção executiva e Direção de Casting de Scena Lúdica